terça-feira, 14 de dezembro de 2010

TRISTEZA

TRISTEZA
Falo-me em versos tristes,
Entrego-me em versos cheios
De névoa e de luar;
E esses meus versos tristes
São ténues, céleres veios
Que esse vago luar
Se deixa pratear.

Sou alma em tristes cantos,
Tão tristes como as águas
Que uma castelã vê
Perderem-se em recantos
Que ela, em soslaio, de pé
No seu castelo de prantos
Perenemente vê...
Assim as minhas mágoas não domo
Cantam-me não sei como
E eu canto-as não sei porquê.

6-7-1910
Fernando Pessoa

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